O câncer no fígado pode ser originado de células que nasceram propriamente no fígado ou de células que vieram de outros órgaos (metástase). A maior parte dos cânceres localizados no fígado não nasceram ali, mas são metástases de cânceres que se iniciaram em outros órgaos ( ex. : Pulmão, rim e cólon) e que de forma secundária atingiram o fígado.
O câncer mais comum originado no fígado consiste no hepatocarcinoma – procedente das principais células do fígado (hepatócitos), o segundo mais comum são os colangiocarcinomas – oriundo das células epiteliais que revestem os ductos biliares, ou seja, dos ductos que transportam a bile. Há outros tipos histológicos raros que nascem propriamente no fígado. Neste artigo iremos discutir sobre Hepatocarcinoma
- O que causa câncer de fígado ?
Em 90 % dos casos o câncer surge de um fígado cirrótico. Ou seja, a cirrose no decorrer dos anos cria um ambiente propício para a geração de tumor, e as causas de cirrose são várias.
– Hepatites virais (principalmente B e C)
– Uso crônico de álcool
– Gordura no fígado (esteatose hepática). A famosa gordura no fígado que acomete 25% das pessoas, e de forma crônica pode gerar inflamação (esteatohepatite) e consequentemente fibrose (cirrose)
– Doenças genéticas (ex.: Hemacromatose, Doença de Wilson)
- Câncer de fígado é genético?
Na maior parte dos casos não! A maioria está relacionado aos hábitos de vida como consumo de álcool, obesidade e contaminação por hepatites virais, mas existem uma minoria de casos raros em que a cirrose é ocasionado por doenças raras como hemocromatose e doença de Wilson.
- Como prevenir câncer de fígado?
Mudando hábitos de vida! Na população ocidental a principal causa de cirrose e consequentemente de Hepatocarcinoma é o acúmulo de gordura no fígado. O emagrecimento e atividade física conseguem reduzir a esteatose e reverter até alguns graus de fibrose, além disso o uso crônico de álcool é outra causa de cirrose.
A Hepatite B e C continuam sendo a principal causa de cirrose no mundo, sendo doenças transmitidas por sangue contaminado, logo a importância de sexo protegido e o não uso de drogas intravenosas.
Vale lembrar que para hepatite B temos a vacinação!
Você já fez seu exame de sorologia para saber se está protegido? Poucos sabem, mas ter tomado todas as vacinas de hepatite B não garante sua imunização, é importante avaliar seu anticorpo ( Anti-hbs), alguns pacientes precisam tomar mais de uma vez da vacina para produzir o anticorpo e ficar finalmente protegido. Para Hepatite C temos tratamentos altamente eficazes com as novas drogas orais, que podem controlar e até mesmo curar a doença na maior parte dos casos !
Faça suas sorologias e se trate caso necessário!
- O que é alfafetoproteína?
É uma glicoproteína sintetizada pelo fígado, e quando aumentada pode indicar a presença de Hepatocarcinoma, porém nem todo câncer hepático produz essa glicoproteína, ou seja, valores normais não descartam a possibilidade de câncer.
Quando o Hepatocarcinoma produz alfafetoproteína, podemos usar dela para monitorar o tratamento, isto é, se a dosagem de alfafetoproteína no sangue está reduzindo possivelmente o câncer está reduzindo com o tratamento. Anteposto, se a alfafetoproteína está subindo possivelmente o tratamento não está tendo o efeito desejado e pode ser a hora de ter que trocar o mesmo.
- Todo nódulo no fígado é câncer?
Não! Com a maior popularização dos exames de imagem é cada vez mais comum os pacientes se depararem com a descrição de um nódulo no fígado, mas fique calmo! A maior parte são benignos e nós médicos usamos várias características para chegar nessa conclusão como por exemplo: Perfil de vascularização, contorno, tamanho, densidade.
Lembre-se sempre de levar os exames antigos para seu médico avaliar, visto que muitas vezes o nódulo já está presente há anos e não representa nenhum perigo, nós médicos usamos a classificação chamada LIRADS para classificar esses nódulos, e se por ventura ele for suspeito iremos indicar uma biópsia para esclarecer a real natureza do nódulo (é câncer ou não é?).
- Como diagnosticar câncer de fígado?
Classicamente o Hepatocarcinoma tem um perfil de imagem muito típico e podemos sim dar o diagnóstico apenas com um exame (tomografia e/ou ressonância com contraste ). Em casos duvidosos podemos usar da biópsia.
É cada vez mais comum realizarmos biópsia mesmo quando já temos a certeza de que o nódulo/massa trata-se de câncer de fígado. Uma vez que ao retirar um pedaço do tumor podemos estuda-lo e ter conhecimento de características que podem nos auxiliar na escolha do tratamento.
- Sinais e sintomas do câncer de Fígado?
A mensagem que deve ficar é que o Hepatocarcinoma é silencioso e dificilmente dá sintomas em fases iniciais em que ele ainda pode ter cura! Então, para aumentar sua chance de cura é muito importante ter seus exames em dia. Para todos os pacientes cirróticos recomendamos Ultrassom de abdômen e dosagem de alfafetoproteína a cada 6 meses.
- Como tratar câncer de fígado?
O tratamento é multidisciplinar e envolve minimamente um time de radiologistas, oncologistas, hepatologistas e cirurgiões. Em fase curável e inicial podemos usar da cirurgia, do transplante hepático e de técnicas de radioablação. A decisão depende do nível de cirrose, das condições do paciente, localização do tumor e claro da disponibilidade de órgão para transplante. Em fases mais avançadas e sem possibilidade de cura, o objetivo do tratamento é controlar a doença e prolongar a vida do paciente.
- Existe quimioterapia para câncer de fígado?
Classicamente o Hepatocarcinoma é considerado quimioresistente ,isto é, a quimioterapia tem pouca ação contra esse câncer , mas felizmente temos drogas alvo e imunoterapia que respondem muito melhor do que a quimioterapia e sendo muito mais toleráveis.
- Câncer de fígado tem cura?
Sim! Principalmente em fase iniciais em que a cirurgia e/ou transplante é factível. Por isso, sempre acompanhe a saúde do seu fígado.
Ficou com dúvidas? Estou à disposição
Dr Carlos Tadeu Garrote Filho
Oncologia e Clínica médica pela USP-SP